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O Desamparo Humano: Reflexões sobre a Consciência, a Identidade e o Equilíbrio

  • Foto do escritor: psificando
    psificando
  • 1 de mai. de 2024
  • 4 min de leitura
“Antes de curar alguém, pergunta-lhe se está disposto a desistir das coisas que o fizeram adoecer.”

(Hipócrates)



labirinto dos desamparados


Um ponto que acho sempre muito importante de se considerar quando me sinto ansioso, ou perturbado de alguma maneira é primeiramente questionar-me o que é que tenho negado ou abandonado a mim mesmo a ponto adoecer?


Respondido isso de maneira mais ou menos satisfatória, geralmente chego em respostas que divergem nas mais diferentes áreas da vida como:

Estou me privando de socialização; atividade física e movimento; talvez de alguns prazeres; descanso, pausa, contemplação da vida; ou de fazer algo que me faça algum sentido.


Mas algo muito comum é o cansaço, sempre acabo muito cansado!

Cansado de trabalho, cansado de pensar, fazer, organizar, planejar, estudar, e muitas vezes cansado de mim mesmo.


Usando então essa peneira das angústias consigo perceber que o cansaço é um tema muito comum na minha vida, e por conseguinte é um grande tema humano, mais especificamente do homem do século XXI.


Por isso a segunda pergunta que me faço quando consigo limitar minhas angústias a uma é:

Até onde o que me adoece não é meio onde vivo?

Não seria este meio o fruto do desespero, negação e abandono de cada indivíduo que se despoja de sua própria humanidade a despeito de um sentido pré-fabricado?

Cada indivíduo assim como eu e você que ao longo de milhares de anos foi se abandonando pouco a pouco, por que isso?


Aquilo que ocorre nos fenômenos de massa, nas misérias e sofrimentos do mundo, eu costumo buscar ver de maneira macro e microcósmica, ou seja, eu busco em mim qual é a dor do mundo, ou no mundo qual a dor em mim... e bom, o tal do abandono, convenhamos, é uma dor demasiadamente humana.


Se nos abandonamos é por que nos sentimos abandonados por algo ou alguém, poderia dizer que muito provavelmente quando nos percebemos como seres separados do todo, passíveis de morte sem resposta alguma de alguma divindade, quando surgiu a luz da consciência, de que eu sou eu, e assim virei o centro do meu mundo, todo mundo deixou de fazer parte de mim, me senti só e abandonado, pois para ser eu, deixo de ser qualquer coisa além de mim.

Embora isso nos traga muita angústia ali também nos percebemos, na angústia EU existo.


Mas agora preciso lidar com meu próprio desamparo, com a solidão, com o medo do meu próprio fim, o inicio da minha existência é o início da possibilidade de um fim, e por isso passo a criar a mim mesmo, buscando ter meu próprio ponto de vista a fim de diferenciar-se do todo, um misto de choques do mundo externo com nosso desamparo existencial interno, diferenciando-me cada vez mais para ser cada vez mais eu mesmo e cada vez menos o outro.


Quanto mais me diferencio mais me distancio de toda humanidade, vou aos poucos criando uma tensão ente o eu e o mundo, me colocando acima do mar de gente, ser humano é fazer parte da dor do desamparo e não, eu não quero sofrer.


Mas toda essa distância me coloca em uma posição sobre humana, tão diferenciado que não consigo me relacionar com mais ninguém, o medo do desamparo me deixa agora, desamparado.


Agora temos urgentemente que ser aceitos!! Eis o enigma que a condição humana nos propõe: Aceitos e como todos os outros abandonados, ou diferentes e desamparados?


Será mesmo isso?

Tomando a frase de Hipócrates como medida...

Se o que me adoece é o próprio desamparo perante minha existência, deveria eu abrir mão da própria consciência? Devo eu abrir mão da razão? Não seria isso sinônimo de morte? Afundar-me novamente na inconsciência?


Sim, ser consciente em demasia pode nos adoecer… Pode nos tirar os limites e barreiras do que é real, isso nos tira o chão e fazer-nos querer prever todos os movimentos, a fim de ter o controle do mundo, para que sejamos diferentes de tudo e isso nos paralisará. Se como diz Jung "é no oposto que se acende a vida", é ser inconsciente e consciente de sua própria inconsciência o que chamamos de vida!


Para mim a resposta neste dado momento tem sido aprender a respeitar o tempo de Cronos (Deus do tempo destrutível e devorador de tudo) sacrificando "o poderia" pelo que ja é, e me aproximar cada vez mais de Kairós (Deus do tempo oportuno) vendo o presente como um momento precioso, aos poucos me aproximando da contemplação de cada instante, afinal, viver entre ambos os mundos e nos sentir pregados e crucificados no tempo e espaço, nada mais há nisso do que a condição de ser humano.


Aí se carrega muita dor e a dor muitas vezes nos transforma naquilo que desejamos não ser, a dor nos coloca em contato com nossa sombra, e nossa sombra é mais umas das dimensões de nossa totalidade, mas as vezes estamos apenas cansados e o descanso dessas muitas batalhas, internas e externas é muito merecido.

O mundo nos distrai e nos bagunça, nossa atenção é valiosa, precisamos de paz e sossego, precisamos do silêncio. É quando afundamos no silêncio e no vazio que a diferença entre óleo e água ficam mais evidentes, e é ali onde podemos ver a linha que divide o eu do mundo.


Brunno Germani Daminelli



Para encerrar um pequeno trecho de Assim falou Zaratustra de Nietzsche:


Com o braço sobre a testa: assim deveria o herói descansar, assim deveria ele também superar seu descanso.

Mas justamente para o herói é o belo a mais difícil de todas as coisas.

Inconquistável é o belo para toda vontade impetuosa.

Um pouco mais, um pouco menos: justamente isso é aqui muito, é aqui o máximo.

Ficar com os músculos relaxados e a vontade desatrelada: eis o mais difícil para vós, ó sublimes!

Quando o poder se torna clemente e descende para o visível: chamo beleza a esta descida.

E de ninguém quero beleza tanto quanto de ti justamente, ó poderoso: que tua bondade seja tua derradeira autoconquista.

De todo o mal te julgo capaz: por isso quero de ti o bem.

Em verdade, muitas vezes ri dos fracotes que se creem bons porque têm patas aleijadas!

Deves aspirar à virtude da coluna: quanto mais ela sobe, fica tanto mais

bela e delicada, mas interiormente mais dura e resistente.

Sim, ó sublime, um dia ainda serás belo e segurarás o espelho para tua própria beleza.

Então tua alma tremerá de divinos desejos;75 e ainda em tua vaidade haverá adoração!

Pois este é o segredo da alma: apenas o herói a abandonou, aproxima-se dela, em sonhos — o super-herói


 
 
 

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