Explorando os Mitos Masculinos: O Que Realmente Define a Masculinidade?
- psificando
- 24 de abr. de 2024
- 4 min de leitura

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“Os mitos da sociedade constituem modelos para essa sociedade em determinada época. A imagem mítica mostra a forma pela qual a energia cósmica se manifesta no tempo; à medida que mudam os tempos, mudam os modos de manifestação.”
Joseph Campbell
Tomando a frese de Campbell como ponto de partida, podemos nos questionar: Quem são os mitos de nosso tempo?
Jesus, Buda, Maomé e por aí vai, embora ainda tenham grande força simbólica nos dias de hoje não são eles mais nossas maiores referencias, os modelos da juventude hoje estão na mídia, não são mais líderes religiosos, o papa não é mais pop há algum tempo.
Hoje os maiores símbolos são Elon Musk como aquele que vai levar a humanidade a Marte com seus fálicos foguetes para fora da terra, pois é mais ‘fácil’ desistir do que já temos do que tentar regenerar e amar nossa terra, Jordan Peterson como o pai de todos, modelo de moral, ditando regras pelos quatro cantos e padrão do sonho canadense, Andrew Tate como playboy milionário com um ego do tamanho do mundo, machista e intolerante, e no Brasil o ‘mito’ Jair Bolsonaro com seu discurso machista e misógino, símbolo do nosso país.
Quando Nietzsche disse “Deus está morto” ele deixou claro que a religião à partir daquele momento histórico já não seria mais a base moral ideológica da humanidade, a fé foi tomada pela razão, e o "ver para crer" se tornou nossa maior oração.
Mas quando Deus não está no céu como um Deus bom, único, poderoso e masculino, para onde é que ele foi?
É necessidade do ser humano o contato com algo maior que si para poder transitar pela realidade sem ser tomado de assalto pela ansiedade e o medo o tempo todo, quando nossas projeções e ideais não estão mais no mundo etéreo nossas almas voltam-se para aqueles que detém grande poder de atração, aquele que encarna o arquétipo representante de nosso tempo tem enorme poder gravitacional, grande potência na sua forma mais negativa, para causar a tensão necessária para expurgar do nosso inconsciente aquilo que precisa ser visto, não para tomada como verdade única, mas para mostrar aquilo que nos negamos a ver em nós mesmos.
Tomemos uma pequena história como exemplo:
Um cavaleiro das Cruzadas volta desanimado para casa e anseia por conhecer Deus. Ele ouve falar de uma bruxa que está em vias de morrer na fogueira. Consegue encontrá-la exatamente antes que ela seja devorada pelas chamas.
“Diga-me, por favor, onde posso encontrar o diabo”, pede a ela o cavaleiro.
“Por que o senhor quer encontrar o diabo? ”, pergunta-lhe a condenada
“Porque talvez o diabo possa me falar de Deus”, responde o atormentado guerreiro.
Minha reflexão fica aqui, por que estamos louvando esses homens? A montagem pinturesca das faces do arquétipo masculino potente e ainda assim inflado ou imaturo? Quando 'maduro', rígido e inflexível, retrógrado ou limitado?
Me pergunto se não deveríamos nos voltar as bruxas do passado, queimadas nas fogueiras junto com nossas almas e perguntar a elas, onde é que podemos encontrar o diabo?
Creio que nosso medo maior seja que ela aponte para nosso próprio peito, e é bem possível que a ignoremos por mais dois mil anos.
Quanto a mim, espero que possamos, em nossas vidas, encontrar Deus de modo mais direto, sem experimentar o tormento desse cavaleiro sem esperanças. Ainda assim, é verdade que, se conseguirmos uma compreensão mais profunda da natureza do mal e suas implicações, provavelmente estaremos aprendendo mais sobre a natureza de Deus.
Percebo que nos encontramos em dois movimentos, ou somos atraídos por essas figuras, ou completamente repelidos, poderíamos pensar no magnetismo onde os iguais se repelem e os diferentes se atraem. Garanto que iriamos querer contrariar as leis da física, pois é desconfortável perceber que aquilo que eu odeio tanto ali fora é aquilo que sou no meu mais íntimo, um(a) intolerante que odeia o feminino.
As vezes o que mais odiamos em nós é exatamente o que estamos precisando...
Fomos tão moldados para sermos bonzinhos e aceitar tudo, nos colocamos em posição de subjugados, diminuídos, tratados como consumidores e como produtos, até acreditarmos que somos isso e nos tornamos tóxicos com nós mesmos. Foi nos feito acreditar que o feminino é terrível, sujo, inferior, pequeno, cuidador, bondoso, fraco, etc... e fizemos de tudo para não sermos isso, e no fim foi no que nos tornamos, não que isso seja ruim, mas não somos apenas isso, somos isso e todo o resto.
Toda nossa civilização encarna na personalidade um feminino pequeno, acolhedor, bondoso, cuidadoso, educado, e então nosso inconsciente ficou a cargo do feminino dos submundos, escuro, sombrio, nos remete a morte, nos agarra e nos leva para o fundo do mar, a fim de nos salvar disso projetamos as figuras heróicas que vemos hoje, buscando fugir da terra (feminino), sendo duros buscando forças para lutar contra o inconsciente, abusando de nós mesmos e de nossos limites, trabalhando sem parar, jornadas duplas, triplas, sem tempo para relações, sem amigos, sem família, sós em uma luta heróica épica.
Nossos mitos fazem isso de maneira espetacular, mas quanto a nós o que deveríamos mesmo fazer é perceber essas qualidades em nós mesmos, perceber como subjugamos o feminino em nós, como somos intolerantes com essa mulher que contemos em nossa alma, usar esses modelos para percebermos o quanto ser assim nos esvazia, nos distancia de nossa alma.
Quanto mais demoramos a perceber que não adianta lutar com cada vez mais força, mais nos debatemos e mais nos afogamos.
No fundo do mar das depressões, no inconsciente, onde o frio já apagou o sol, no breu, onde somos tomados pela escuridão total, quem sabe poderemos encontrar um certo acolhimento, entregar-se, desistir da luta, e à partir dali dar a luz a um novo homem, mais integrado, mais humano, em contato com suas fragilidades, emoções e supostas fraquezas para aí então se dar conta que é através de nossa vulnerabilidade que podemos nos encontrar em sintonia com o feminino.
É necessário morrer para assim abraçarmos nossa natureza, aceitando nossa integralidade como ser humano, pois o que define um homem é ser completo e para isso é preciso também saber ser mulher.


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